Procurando marcar o terreno dos adversários, surgiram recentemente declarações a propósito do Referendo sobre a liberalização do Aborto, defendendo a “vida com dignidade”. Dizendo-se a favor da liberalização do aborto, logo rematavam que só tinha sentido defender a vida com dignidade, escusando-se a esmiuçar o que significaria essa dignidade qualificadora da vida defensável.
“Vida com dignidade” permitiria eliminar livremente e de forma subsidiada pelos impostos de todos nós, quem não teria “dignidade para viver”. Uma dignidade humana que tornaria digno um certo eugenismo à maneira de Huxley, eliminando os mais fracos, os mais feios ou os menos adequados à sociedade produtora. É espantoso ver a defesa destes conceitos, algo comparáveis às “supremacias da raça ariana”, por sectores habitualmente longe (?) dessas concepções políticas!
O aborto é sem dúvida uma questão sintomática dos valores da sociedade em que nos foram envolvendo ou da sua decadência. Por um lado um certo relativismo ético que obriga a qualificar antes de adoptar ou defender. O “homem moderno”, “o estado democrático”, “a sociedade solidária”, “a guerra justa” – tudo em duas palavras, como se uma só, não fosse, só por si, suficiente. Só merece destaque o que for enquadrável num conjunto de conceitos qualitativos que se fabricam e se adaptam com o decurso dos tempos. São os homens de hoje que se julgam no direito de dispor de valores que ultrapassam obrigatoriamente a sua efemeridade histórica.
Por outro lado, numa perspectiva mais preocupante, a demissão, a irresponsabilização, como se não houvesse esperança nem vontade de ultrapassar as condicionantes da vida que temos. A cultura dominante da nossa sociedade desistiu de acreditar, de pensar e trabalhar na melhoria das condições, julgando ser mais certo eliminar “pela raiz”, deitando fora o menino com a água suja da banheira. Já Roma julgava que eliminaria o cristianismo matando os cristãos, e em alguns estados totalitários, matavam-se os mendigos para acabar com a fome!
“Vida com dignidade” é arrogância cultural de quem se julga no direito de fixar padrões de existência aos vindouros. É querer dispor para além da nossa existência, como se amanhã fosse possível aos mais novos determinar quando é que a existência dos idosos deixaria de ter dignidade – quando fossem reformados? Quando estivessem imobilizados? Quando fossem caros ao erário público e causa de dificuldades nas políticas de assistência social?!
“Vida com dignidade” é esconder a opção pela indignidade humana de se acomodar ao que existe e não reconhecer o frutuoso trabalho de tantos quantos lutaram e criaram condições para que tantas crianças nascessem nos últimos anos no nosso País, pese embora os arautos da desgraça vociferassem pela “facilidade” de um aborto legalizado, logo permitido, lícito e subsidiado.
Pelo contrário, dignidade humana é reconhecer que a nossa existência é um conjunto de falhas e glórias, de esforços e conquistas, de lutas e quedas, mas que apesar de tudo merece ser vivida, num olhar sempre perspectivado para que a vida seja um valor com cada vez mais dignidade.
Tenhamos consciência que também isto se vota a 11 de Fevereiro próximo.
RICARDO VIEIRA
“Vida com dignidade” permitiria eliminar livremente e de forma subsidiada pelos impostos de todos nós, quem não teria “dignidade para viver”. Uma dignidade humana que tornaria digno um certo eugenismo à maneira de Huxley, eliminando os mais fracos, os mais feios ou os menos adequados à sociedade produtora. É espantoso ver a defesa destes conceitos, algo comparáveis às “supremacias da raça ariana”, por sectores habitualmente longe (?) dessas concepções políticas!
O aborto é sem dúvida uma questão sintomática dos valores da sociedade em que nos foram envolvendo ou da sua decadência. Por um lado um certo relativismo ético que obriga a qualificar antes de adoptar ou defender. O “homem moderno”, “o estado democrático”, “a sociedade solidária”, “a guerra justa” – tudo em duas palavras, como se uma só, não fosse, só por si, suficiente. Só merece destaque o que for enquadrável num conjunto de conceitos qualitativos que se fabricam e se adaptam com o decurso dos tempos. São os homens de hoje que se julgam no direito de dispor de valores que ultrapassam obrigatoriamente a sua efemeridade histórica.
Por outro lado, numa perspectiva mais preocupante, a demissão, a irresponsabilização, como se não houvesse esperança nem vontade de ultrapassar as condicionantes da vida que temos. A cultura dominante da nossa sociedade desistiu de acreditar, de pensar e trabalhar na melhoria das condições, julgando ser mais certo eliminar “pela raiz”, deitando fora o menino com a água suja da banheira. Já Roma julgava que eliminaria o cristianismo matando os cristãos, e em alguns estados totalitários, matavam-se os mendigos para acabar com a fome!
“Vida com dignidade” é arrogância cultural de quem se julga no direito de fixar padrões de existência aos vindouros. É querer dispor para além da nossa existência, como se amanhã fosse possível aos mais novos determinar quando é que a existência dos idosos deixaria de ter dignidade – quando fossem reformados? Quando estivessem imobilizados? Quando fossem caros ao erário público e causa de dificuldades nas políticas de assistência social?!
“Vida com dignidade” é esconder a opção pela indignidade humana de se acomodar ao que existe e não reconhecer o frutuoso trabalho de tantos quantos lutaram e criaram condições para que tantas crianças nascessem nos últimos anos no nosso País, pese embora os arautos da desgraça vociferassem pela “facilidade” de um aborto legalizado, logo permitido, lícito e subsidiado.
Pelo contrário, dignidade humana é reconhecer que a nossa existência é um conjunto de falhas e glórias, de esforços e conquistas, de lutas e quedas, mas que apesar de tudo merece ser vivida, num olhar sempre perspectivado para que a vida seja um valor com cada vez mais dignidade.
Tenhamos consciência que também isto se vota a 11 de Fevereiro próximo.
RICARDO VIEIRA
Sem comentários:
Enviar um comentário