13.1.07

"Algumas perguntas à Drª Violante"

"Cara senhora:

Segui com atenção o seu debate com a Dra Rubina Berardo na RTP Madeira(09-01-2006), a propósito do referendo ao aborto. Claro que na sua intervenção foram visíveis os seus muitos de anos de experiência e detraquejo político-partidário, face a uma jovem ainda bastante verde.Mas gostaria de ter-lhe podido fazer algumas perguntas:
1. Como é que justifica essa sua posição de, por um lado ser contra o aborto (até insinuou que toda a gente é contra o aborto, por este seruma coisa má) e por outro lutar pela facilitação (já que não gosta quelhe chame liberalização) da sua prática? Não há aqui algo deesquizofrénico? Como se pode ser contra uma coisa (que se consideraerrada) e, ao mesmo tempo, defender que ela deve ser praticada comtodas as condições de higiene e em plena liberdade? Desculpe, sei quenão sou muito inteligente, mas este tipo de lógica não sou capaz deentender. Não seria mais honesto da sua parte dizer simplesmente queapoiava a liberdade da mulher abortar?
2. Caso ganhe o sim, o que é que deve ser feito às mulheres que vãoabortar depois das dez semanas? Devem ser julgadas e condenadas? E àsque vão continuar a abortar clandestinamente (por receio, porvergonha,?)? Devem ser julgadas e condenadas? Será, portanto, o factode ser praticado em hospitais e clínicas autorizadas que legitima oaborto?
3. A sua argumentação vale apenas para o aborto ou também se pode aplicar a outros comportamentos? Por exemplo: a senhora sabe muito bem que há muitos mais roubos que abortos e que só uma parte ínfima desses despenalizados? Pois se a lei raramente é aplicada nesses casos! Além do mais, como sabe, os roubos também são normalmente clandestinos?parece-me, por isso, que talvez se pudessem enquadrar na suaargumentação. É que a maioria dos ladrões são uns tristes coitados,sem condições de singrar na vida!
4. Finalmente, uma que me tem moído a «moleirinha»: como é que alguémcomo a senhora, reconhecidamente de esquerda, aceita entregar de mão beijada aos capitalistas das multinacionais das clínicas abortivas unsbons milhões de euros, quando há tantas necessidades graves a resolver neste país? Toda a gente sabe que os hospitais públicos não vão fazer abortos a pedido, pelo que serão as clínicas espanholas a encher osbolsos. Como é que uma mulher de esquerda se vende assim ao capitalismo mais sujo? Como é que a esquerda deste país desiste de lutar por causas ? pela defesa dos mais fracos e indefesos ? e se vende a uma solução que não resolve nada, antes se torna um presente envenenado às mulheres?
5. E agora a minha resposta à sua pergunta: como é que se resolve o problema do aborto clandestino, quer a senhora saber? E a senhora sabe? Se sabe, então merece o prémio Nobel (não é que eu queira ver dois na família)! Eu, honestamente, não sei como se resolve, mas estou convicto de que a sua resolução não passa pela liberalização da lei.Digo-lhe: a solução para o aborto é a mesma que se deve procurar para a toxicodependência, o abandono das crianças ou dos idosos, a corrupção económica, etc. etc. Não há milagres para estes flagelos sociais, mas a procura de soluções justas e humanas passa sempre por mais trabalho, mais educação, maior responsabilização de todas as partes, maior sentido de justiça, maior fidelidade aos valores. Nunca por uma atitude de desistência e de demissão! Não lhe parece?"
José Anastácio

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